(FONTE: Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa do ISCTE)
SEMINÁRIO COMUNISMOS: História, Poética, Política e Teoria.
Organização: Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa do ISCTE
Coordenação: João Arsénio Nunes e José Neves
Apoios: ISCTE | Edições 70 | Le Monde Diplomatique – Edição Portuguesa | Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Sessões às 17h30 | ISCTE | Auditório B203 (Edifício II)
PROGRAMA:
4 OUT: A autonomia operária em Itália, de Mario Tronti a Toni Negri. Com Ricardo Noronha.
11 OUT: Comunismo e Ciência. Com Frederico Ágoas, Gisela da Conceição e Maria Carlos Radich.
18 OUT: Teatro e cinema. Com passagem do filme de Slatan Dudow/B. Brecht, Kuhle Wampe ou A quem pertence o mundo, 71, 1933. Com Maria Helena Serôdio e Vera San Payo de Lemos.
25 OUT: Entre Movimento Negro e Marxismo: Genealogia dos Movimentos de Libertação da África Lusófona. Com António Tomás. [Excepcionalmente esta sessão é no Auditório Silva Leal do ISCTE].
30 OUT: Marx e o Projecto Comunista. Com José Barata Moura.
8 NOV: Da URSS à Rússia (I). Com Carlos Taibo.
15 NOV: Da URSS à Rússia (II). Com Luís Carapinha.
22 NOV: A Rússia Soviética entre o Ocidente e o Oriente: Geopolítica para uma Ambivalência Identitária. Com Mário Machaqueiro.
29 NOV: Comunismo e Democracia. Debate sobre o livro de Luciano Canfora, A democracia, história de uma ideologia (Lisboa, Edições 70, 2007). Com Luciano Canfora, Filipe do Carmo e João Arsénio Nunes.
6 DEZ: Lenine e Cinema: Eisenstein e Vertov. Com passagem do filme de Dziga Vertov, Três Canções sobre Lenine, 62, 1934. Com Fernando Guerreiro.
13 DEZ: História do Futebol na URSS. Com James Riordan.
BREVE APRESENTAÇÃO DOS ORADORES
Ricardo Noronha é licenciado em História e doutorando da FCSH-UNL. É bolseiro da FCT. Tem trabalhado sobre a história do cinema em Portugal e pesquisado acerca da história das correntes autonomistas em Itália. No seu doutoramento está a estudar o processo de nacionalização da banca em Portugal no pós-25 de Abril, tendo publicado recentemente «A banca ao serviço do povo: do 25 de Abril às nacionalizações».
Frederico Ágoas é doutorando em Sociologia Histórica na FCSH-UNL. É bolseiro da FCT. Tem trabalhado sobre a história da ciência e na sua tese de doutoramento está a investigar a história da sociologia em Portugal. Tem também desenvolvido trabalho sobre a história do pensamento marxista, tendo publicado recentemente «Gyorgy Lukács: reserva cancelada no Grande Hotel Abismo».
Gisela da Conceição é professora de Filosofia do ensino secundário, aposentada. Entre as suas principais obras contam-se Ler Althusser, leitor de Marx, e Espinosa, um claro labirinto.
Maria Carlos Radich é ginasta, Doutorada e Agregada em Agronomia e Professora Associada de História do ISCTE. Entre as suas principais obras contam-se: Temas de História em Livros Escolares, Almanaque: tempos e saberes, Agronomia no Portugal Oitocentista: uma Discreta Desordem, Dois Séculos da Floresta em Portugal (com A. Monteiro Alves) e Um Modo de Vida (novela).
Maria Helena Serôdio é Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especialista em Estudos de Teatro e Literatura Inglesa e actual Presidente da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro. Publicou, entre outras obras: Questionar Apaixonadamente. O teatro na vida de Luís Miguel Cintra.
Vera San Payo Lemos, Mestre em Estudos Germanísticos e docente da Faculdade de Letras de Lisboa, é dramaturgista. Tem publicado diversos artigos sobre teatro e coordena a edição portuguesa das obras de teatro de Bertolt Brecht. Recebeu recentemente o Prémio Goethe da cidade de Weimar pelo seu trabalho na difusão da cultura alemã.
António Tomás, doutorando em antropologia pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, é colaborador frequente de jornais angolanos, como o Jornal de Angola e o Angolense. É autor de Fazedor de Utopias Biografia de Amílcar Cabral.
José Barata-Moura é Professor Catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa, tendo desempenhado as funções de reitor da Universidade Clássica entre 1998 e 2006. É filósofo, escritor e cantor. Publicou, entre outros: Kant e o conceito de Filosofia, Estética da canção política, Totalidade e contradição, Ideologia e Prática, Para uma crítica da “Filosofia dos valores”, Ontologias da “práxis” e idealismos, Marx e a crítica da “Escola Histórica do Direito” e Estudos de Filosofia Portuguesa.
Carlos Taibo, catedrático de Ciência Política e da Administração da Universidade Autonoma de Madrid, onde dirige o Instituto de Estudos Russos, é autor, entre outras, das seguintes obras: La Unión Soviética de Gorbachov, Las fuerzas armadas en la crisis del sistema soviético, Crisis y cambio en la Europa del Este, Las transiciones en la Europa central y oriental, La Unión Soviética. El espacio ruso-soviético en el siglo XX, La explosión soviética, La desintegración de Yugoslavia, Guerra en Kosova. Un estudio sobre la ingeniería del odio, El conflicto de Chechenia e Rusia en la era de Putin.
Luís Carapinha, jornalista político, é licenciado em Motricidade Humana e em Comunicação Social. Tendo vivido na Ucrânia e na Rússia, tem vindo a especializar-se nos assuntos de história política russa e soviética.
Mário Machaqueiro é licenciado em Filosofia pela Universidade de Lisboa, Mestre e Doutor em Sociologia pela Universidade de Coimbra. A sua dissertação de doutoramento foi dedicada aos conflitos entre modelos políticos e aos processos identitários que acompanharam a Revolução de 1917 na Rússia. Encontra-se actualmente a realizar o pós-doutoramento na FCSH-UNL, com um projecto de investigação sobre representações identitárias do Islão nas retóricas coloniais e anti-coloniais.
Luciano Canfora, Professor da Universidade de Bari, filólogo, historiador e ensaísta, é um dos maiores especialistas mundiais da Antiguidade Clássica. Principais obras recentes: Un mestiere pericoloso. La vita quotidiana dei filosofi greci, Storia della letteratura greca, Critica della retorica democratica, Libri e biblioteche, Noi e gli antichi, Storici e storia, Le vie del classicismo – Vol. 3: Storia, tradizione, propaganda, A Democracia. História de uma Ideologia, Histoire de la littérature grecque à l’époque hellénistique, Tucidide tra Atene e Roma, Il papiro di Dongo, L’occhio di Zeus. Disavventure della “Democrazia”, Esportare la libertà.
Filipe do Carmo, economista, dedica-se como autodidacta à História da Antiguidade. É autor de As Tiranias da Sicília no Século V a.C.
João Arsénio Nunes, assistente convidado de História Contemporânea do ISCTE, tem publicado diversos trabalhos na área da história do movimento comunista e do antifascismo em Portugal e na Europa. Colaborou recentemente nos volumes Enciclopedia della Sinistra Europea nel Ventesimo Secolo e Dizionario del Comunismo.
Fernando Guerreiro é Professor Associado do departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras de Lisboa. Publicou: O Canto de Mársias. Uma Poética do Sacrifício, Monstros Felizes: La Fontaine, Diderot, Sade, Marat, O Caminho da Montanha, “Teoria do Fantasma”, ART Campbell e Negativos.
James Riordan é um dos mais reputados investigadores mundiais sobre a história do desporto. Tem-se dedicado particularmente à história do desporto nos regimes comunistas e no movimento operário. Publicou várias obras, tais como Soviet Sport Background to the Olympics, Sport, politics and communism, The International Politics of Sport in the 20th Century. É também escritor e nos anos 60 chegou a jogar futebol pelo Spartak de Moscovo.
TEXTO DE APRESENTAÇÃO DO SEMINÁRIO
Desde o espectro que ronda na Europa de 1848, até ao fim da União Soviética e do bloco de leste na última década do século XX, o comunismo foi provavelmente na história contemporânea o movimento e a ideologia que mais paixões suscitou e mais afectou a vida dos Europeus. Fora da Europa, no século XX a sua influência não foi menor, e cerca de um quinto do género humano habita actualmente Estados com governos comunistas.
No princípio do século XXI, desaparecida a contraposição de sistemas mundiais e quando a globalização capitalista ordena a marcha do planeta e dos que o habitam, é difícil entender o que diziam Marx e Engels ao escreverem que o comunismo não é uma situação que deve ser implantada, um ideal por que a realidade se deverá reger; chamamos comunismo o movimento real que supera a situação actual. E no entanto o tempo que vivemos evoca inevitavelmente uma história de mudança através da destruição, que caracterizou os últimos dois séculos, e perante a qual o comunismo se representou como o crítico teórico e a alternativa prática.
Para além de actor político de ambição universal, o comunismo influenciou as práticas sociais e as esferas da cultura em praticamente todos os domínios. Nesse movimento, a combinação entre as suas componentes teleológicas e societais diversificou-se, daí que haja lugar a falar em comunismos no plural. Tal diversificação motiva a interrogar os comunismos nas suas raízes teóricas e históricas, na multiplicidade da suas conexões e conotações: como história, como poética, como política e como teoria.
Embora a investigação e o debate científicos sobre o comunismo ocupem hoje em toda a Europa e nos EUA um lugar relevante nos currículos universitários o que aliás se acentuou nos últimos anos, em consequência do extraordinário alargamento dos arquivos disponíveis , em Portugal encontramo-nos, salvo excepções individuais, na infância da arte. O presente seminário visa impulsionar a superação deste estado de coisas, fazendo das correntes intelectuais, dos movimentos sociais, das organizações políticas e das teorias que historicamente se relacionaram com o comunismo (socialismos utópicos, marxismos, anarquismos) um objecto de indagação, pesquisa e debate científico, capaz de repercussões tanto no aprofundamento da investigação como no ensino universitário e na divulgação. Tem-se em vista, em particular, contribuir deste modo para a superação da separação entre a história contemporânea de Portugal e a história geral, nomeadamente europeia.
O seminário acolhe contribuições que não se reivindicam de qualquer conceptualização marxista mas se debruçam sobre os comunismos e, também, contribuições no âmbito da história, da antropologia, da sociologia, da filosofia, dos estudos literários e artísticos -, que convocam as tradições marxistas em domínios que excedem o âmbito da história do comunismo.
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