Vanessa de Almeida – ANTÓNIO MARIA MARQUES E A HISTÓRIA OPERÁRIA DO BARREIRO

António Maria Marques – Biografia

Nasceu em 1915 no Barreiro. Em 1932, inicia a sua actividade política, integrando a 2ª célula da Juventude Comunista do Barreiro. De 1933 a 1935 viria a ser responsável pela Juventude Comunista do Seixal.
Em Janeiro de 1935 é preso no Barreiro, sendo posteriormente transferido para a esquadra do Calvário e depois para a sede da PVDE. Esteve durante 15 dias em regime de incomunicabilidade todavia, aquela polícia não conseguiu reunir elementos para constituir um processo.
Em termos profissionais, entrou com 12 anos para a CUF como aprendiz de torneiro mecânico. Viria a prefazer 41 anos ao serviço da Companhia, sendo agraciado com as medalhas de bons serviços e de mérito no trabalho.
António Maria Marques desenvolveu ainda uma intensa actividade associativa em diversas associações e colectividades barreirenses.
Para além dos artigos subordinados ao tema «Memórias Políticas no Barreiro», escreveu outros artigos versando os mais variados temas.
Foi agraciado pela CMB com o galardão Barreiro Reconhecido na àrea da Resistência Anti-Fascista no ano de 1997.
Actualmente continua a ser militante do PCP.

Artigos de António Maria Marques publicados no Jornal do Barreiro subordinados ao tema geral Memórias Políticas no Barreiro.

• «Que nunca sejam esquecidos os que lutaram», Jornal do Barreiro, 25/04/1997

• «Constituição do Primeiro Comité local do PCP», Jornal do Barreiro, 16/05/1997.

• «O movimento de 18 de Janeiro de 1934. Greve Geral Revolucionária contra o Estatuto do Trabalho Nacional», Jornal do Barreiro, 06/06/1997.

• «Revolta da Marinha Portuguesa – participação de militantes do Barreiro», Jornal do Barreiro, 20/06/1997.

• «José Simões (Mina) na reunião do Comité Central – um impedimento de Acácio Costa», Jornal do Barreiro, 18/07/1997.

• «O Partido Comunista no Barreiro, face à Igreja», Jornal do Barreiro, 08/08/1997.

• «Riscos da Luta», Jornal do Barreiro, 15/08/1997

• «A prisão de José Francisco na CP», Jornal do Barreiro, 05/09/1997.

• «Mulheres organizadas e que se salientaram na luta de classes no Barreiro», Jornal do Barreiro, 26/09/1997.

• «O envolvimento de Flávio Alves, na fuga de dois militantes do Comité Local de Lisboa, que se encontravam presos, no Governo Civil de Lisboa», Jornal do Barreiro, 17/10/1997.

• «Riscos da Luta», Jornal do Barreiro, 31/10/1997.

• «O Partido, face às colectividades do concelho do Barreiro», Jornal do Barreiro, 21/11/1997.

• «Uma noite de forte agitação e propaganda», Jornal do Barreiro, 09/01/1998.

• «Imprensa», Jornal do Barreiro, 16/01/1998.

• «Uma cisão no Partido Comunista Português em 1941 envolvendo um militante do Barreiro», Jornal do Barreiro, 23/01/1998.

• «Uma célula da Juventude em actividade e o imprevisto», Jornal do Barreiro, 06/02/1998.

• «A Greve CUF em 1943», Jornal do Barreiro, 13/02/1998.

• «Quem foi Francisco Ferreira? Chico da CUF», Jornal do Barreiro, 27/02/1998.

• «A Língua Internacional “Esperanto”, e a sua História, no Barreiro», Jornal do Barreiro, 20/03/1998.

• «Retrospectiva», Jornal do Barreiro, 27/03/1998.

• «Maria da Conceição Vassálo e Silva da Cunha Lamas “Maria Lamas”. Uma mulher portuguesa para não esquecer», Jornal do Barreiro, 10/04/1998.

• «Quem foi Eduardo Fernandes?», Jornal do Barreiro, 24/04/1998.

Notas

Publicados curiosamente ou não, no período balizado entre 25 de Abril de 1997 e 24 de Abril de 1998, o autor explica, logo no primeiro artigo, quais as razões que motivaram a elaboração dos mesmos:

«Historiar a vida do Partido Comunista Português, no Barreiro, não é, na verdade, uma tarefa fácil. Duas razões principais dificultaram esta tarefa. A primeira razão reside no facto de, na época distante, da implantação do PCP, existirem muitas preocupações em efectuar registos escritos. Vivia-se sob clandestinidade e forte repressão, corriam-se perigos iminentes, existia o perigo de colocar muitas pessoas sob a alçada da bufaria e da polícia política especializada em vigiar estes acontecimentos.
(…)
A segunda razão é que nada justifica as comissões concelhias do PCP, no Barreiro, que após o 25 de Abril de 1974 tenham votado ao esquecimento tal trabalho, porquanto, naquela época, o Barreiro ainda estava recheado de militantes de épocas distantes que viveram os melhores momentos da vida deste partido e, com o contributo de centenas deles, teria sido possível recolher bastante material para este efeito. (…)
»

Esta última afirmação do autor causou, na época, alguma polémica, com o engº Armando Sousa Teixeira, actualmente autor de 3 volumes, sob o tema Barreiro – Uma História de Trabalho, Resistência e Luta, Lisboa, Ed. Avante, 1997-2001, romances baseados em relatos escritos e orais dos diversos participantes dos acontecimentos narrados.
Polémicas à parte, a série de artigos de António Maria Marques são fundamentais para estudar a história do PCP no Barreiro no que concerne às décadas de 30 e 40 do século passado. Pelo relato dos acontecimentos, pelos nomes de militantes vários, acompanhados, sempre que possível, com fotografias dos mesmos.
De igual modo que os volumes do Engº Armando S. Teixeira, talvez até por serem romanceados e, dotados de uma grande oralidade, nos permitem conhecer a ambiência de época que nos parece a nós remota e, afinal, não passou assim tanto tempo…
Todavia, não podemos deixar de concordar com as dificuldades apontadas por António Maria Marques. O Barreiro industrial, o Barreiro dos Ferroviários, dos Corticeiros, dos operários da CUF, das colectividades, da “Oposição hasteada como bandeira” hoje, já não existe. Testemunhos que se perderam, vivências, saberes que dificilmente temos acesso.
Saber que os anarquistas se passeavam com lenços pretos ao pescoço e os comunistas com lenços vermelhos. Tudo isto conta, tudo isto interessa. Todas as recordações, vozes, memórias. O Barreiro Industrial hoje, já não existe. Existe contudo a certeza da importância que a então vila barreirense teve para a história da Resistência, para a história do Movimento Operário de Portugal.

4 comments

  1. Um excelente contributo no domínio da História Regional/Local, a qual importa cada vez desenvolver, no âmbito da História de Portugal.
    Sendo que ao nível da História do Operariado em Portugal, não é de duvidar que muito se encontra ainda por registar, este exemplo concreto do Barreiro, não deixa de ser uma mais-valia para o atenuar desse panorama. O mesmo, obviamente, para a História do PCP e da actuação dos seus militantes e/ou simpatizanres por todo o país, nomeadamente em zonas particularmente propícias à sua actuação, pelas caraterísticas dos territórios onde se integravam.

    Que mais contributos como este, venham pois a surgir, como uma regularidade maior.

  2. LdS

    Um excelente contributo. A realização e apresentação de registos bibliográficos, trabalho laborioso mas tantas vezes menosprezado, tem imediatamente dois méritos: em primeiro lugar, permite abrir caminhos e facilitar futuras investigações e inclusive possíveis revisões e complementos; em segundo lugar vai acordar registos que, de outra forma, acabariam diluídos no tempo. Um registo não referenciado está no (mau) caminho de se tornar um registo perdido.

  3. antonieta paulo

    não se deve esquecer o passado tanto sofrimento nas maos daqueles crápulas também o meu pai foi perseguido coragem escrevam mais

  4. leonor silva

    um trabalho a merecer alguma atenção mas que convem ver desenvolvido sem demagogias nem fundamentalismos

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