Na nota que acompanhava as fotografias da intervenção policial, o leitor Castello Branco referia que estas se encontravam entre os papéis de seu pai, e que, não tendo a certeza de que fora ele que as tirara, sabia que o tinham sido com a sua câmara fotográfica. Para completar a história destas fotos, cuja importância vem não só de documentarem o que aconteceu nesse dia na TAP, mas também da raridade de registos de imagens de actos de repressão do regime ditatorial, o seu autor Francisco Santos Costa, que trabalhava então na empresa, enviou-me um depoimento sobre o contexto em que foram tiradas as fotografias. Agradeço a Francisco Santos Costa o seu testemunho.
Efectivamente o senhor João Castello Branco, (…) não foi quem as tirou, mas sim eu próprio embora a maquina fosse pertença sua.
O Sr Castelo Branco era na altura meu chefe e trabalhávamos num pequeno gabinete interior do edifico 25 no aeroporto, no qual arriscávamos ouvir as emissões em AM da BBC num pequeno rádio de pilhas, obviamente sobre minha instigação, resultado do meu jovem e rebelde comportamento contra o poder constituído. Na altura teria 23 ou 24 anos!
(…) Ora quando em 1973 começou a convulsão na TAP, por receio, não quis dar-lhe a conhecer algum envolvimento naquele movimento e no dia em que a policia de choque entrou pelas instalações do aeroporto, como não tinha comigo a minha CANON, pedi-lhe por tudo para me emprestar a dele que eu sabia estar no seu carro.
Com grande esforço lá me deu as chaves e fui buscar a máquina.
Foi nesse preciso momento que contra a sua vontade e opinião desfavorável de muitos outros colegas da Direcção de Finanças de Conferência de Tráfego, fui de máquina em punho para um dos gabinetes que davam para o exterior do 5º andar do Edifício 25 e gastei o resto do rolo obtendo as imagens da carga policial exactamente quando se iniciou.
Nessa altura os colegas, na maioria mulheres, foram picados por mim a manifestarem a sua revolta perante tamanha brutalidade e iam arremessando pela janela fora os agrafadores, cinzeiros, tabuleiros, tudo o que havia em cima das secretárias na tentativa de acertarem nos polícias.
A revolta apoderou-se daquela gente que entretanto se tornou em medo quando entrou um dos chefes mais ferozes a mandar todos para as secretárias saindo eu da sala com a máquina enfiada dentro da camisa debaixo do sovaco.
(…) Retirei o rolo e guardei-o dentro de um aparelho de ar condicionado durante alguns meses.
O mais caricato é o facto de terem sido reveladas em Angola com a ajuda de uma colega comum que lá se deslocou pois aí sabíamos que a pressão destas coisas era menor.
Fizeram-se duas cópias: Uma para mim ( ainda as tenho ) e outras para o Castello Branco que devem ser essas que muito oportunamente (…) publicou.
Posteriormente viriam a fazer parte da ilustração do “Livro Branco da TAP” editado pelo Sindicato da Marinha Mercante.