MORTE DE FRANCISCO MARTINS RODRIGUES (1927-2008)

fonte: Diário Digital / Lusa
Manuscrito de Francisco Martins Rodrigues criticando a falta de debate político no PCP (1956-7?)

Francisco Martins Rodrigues, que hoje morreu aos 81 anos, em Lisboa, protagonizou a principal cisão no PCP, foi ideólogo da extrema-esquerda em Portugal e fundou o Comité Marxista-Leninista Português (CMLP), de que a UDP foi herdeira.

Figura mítica da oposição antifascista, pertenceu à direcção, na clandestinidade, do PCP, já liderado por Álvaro Cunhal, com quem fugiu, da prisão de Peniche, em 1961.

Polémico, Martins Rodrigues foi-se afastando (ou expulso, no caso da UDP) dos vários grupos em que se subdividiu a extrema-esquerda e a que se foi ligando, antes e depois do 25 de Abril de 1975.

Até ao fim, afirmou-se revolucionário. Numa entrevista ao diário «A Capital», em 2003, dizia que os revolucionários não elegem deputados, numa critica à «esquerda cor-de-rosa» do Bloco de Esquerda. E no ano seguinte defendeu que só é possível derrubar o capitalismo «pela força».

Francisco Martins Rodrigues nasceu em 1927 e fez um percurso político que começou, em 1949, no Movimento de Unidade Democrática (MUD). Entrou para o PCP, a convite do histórico Jaime Serra, em 1954.

Três anos depois, em 1957, foi preso pela primeira vez pela PIDE, condenado a três anos e foi na prisão que conhece Álvaro Cunhal, então destacado dirigente do PCP.

Em 1961, é membro suplente do Comité Central do PCP depois da famosa fuga da prisão de Peniche, que, a 03 de Janeiro de 1960, devolveu à liberdade e à clandestinidade Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues.

Aproximavam-se tempos de divergência. É enviado pelo PCP a Moscovo, em 1963, para apresentar um relatório do secretariado do partido no interior, da autoria de Blanqui Teixeira e do qual discordava.

Nesse ano, surgiu a ruptura em pleno conflito sino-soviético e com o próprio Cunhal. «Chico» Martins Rodrigues apoiou as teses pró-chinesas contra a União Soviética, criticou as teses de Cunhal do «levantamento nacional» para derrubar o fascismo, em «Rumo à Vitória», e defendeu a «luta armada» e a teoria da China maoista da confrontação com o imperialismo.

As divergências são insanáveis e em 1964 Francisco Martins, ou o «camarada Campos» – pseudónimo da clandestinidade – é oficialmente expulso do PCP sob acusação de ter roubado uma máquina de escrever.

Em Paris, escreve «Luta Pacífica e Luta Armada», um texto que é a resposta a «Rumo à Vitória», de Cunhal, e é que começa a sua fama de ideólogo, «papa» ou até «Cunhal» da extrema-esquerda.

Cria a Frente de Acção Popular (FAP) e depois o Comité Marxista-Leninista Português (CMLP), com João Pulido Valente e Rui D’Espinay. Mais tarde, são estes grupos que se fundem no Partido Comunista Reconstruído PC(R), de que a União Democrática Popular (UDP) é a frente eleitoral.

Pulido Valente, D’Espinay e Martins Rodrigues planeiam o regresso a Lisboa, mas tiveram que regressar a França porque uma nota no Avante!, órgão oficial do PCP, os denunciou.

Só regressam em 1964 e no ano seguinte dá-se um acontecimento polémico: o julgamento e morte do informador de Mateus, um informador da PIDE, por membros da FAP, incluindo Martins Rodrigues.

É preso de novo em 1966, condenado a 19 anos de prisão por crimes políticos e comuns e só é libertado dois dias depois do 25 de Abril de 1974, que derrubou 48 anos de ditadura.

Francisco Martins Rodrigues alimentou divergências ideológicas desde 1976 e foi expulso tanto do PC(R) como da UDP, em 1983, por causa da Albânia e da «questão Estaline».

Logo nesse ano, funda a revista «Política Operária» de que foi director e é aí que escreve, em 2005, sobre a morte de Cunhal e de Vasco Gonçalves, primeiro-ministro em 1974 e 1975, num tom ácido: «A ‘força do ‘PC’ só se exibe agora nas cerimónias fúnebres. O povo miúdo vive o luto de um sonho que não sabe como se sumiu».

Diário Digital / Lusa

One comment

  1. TAVARES

    Grande perda deste camarada e revolucionário. Ideologos de grande inteligencia como este camarada, cada vez mais raros.Perdem a classe oprimida e os povos que lutam pela sua independencia e o socialismo.

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