Organização: Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa do ISCTE
Coordenação: João Arsénio Nunes e José Neves.
[texto de apresentação do seminário]
Desde o espectro que ronda na Europa de 1848, até ao fim da União Soviética e do bloco de leste na última década do século XX, o comunismo foi provavelmente na história contemporânea o movimento e a ideologia que mais paixões suscitou e mais afectou a vida dos Europeus. Fora da Europa, no século XX a sua influência não foi menor, e cerca de um quinto do género humano habita actualmente Estados com governos comunistas.
No princípio do século XXI, desaparecida a contraposição de sistemas mundiais e quando a globalização capitalista ordena a marcha do planeta e dos que o habitam, é difícil entender o que diziam Marx e Engels ao escreverem que o comunismo não é uma situação que deve ser implantada, um ideal por que a realidade se deverá reger; chamamos comunismo o movimento real que supera a situação actual. E no entanto o tempo que vivemos evoca inevitavelmente uma história de mudança através da destruição, que caracterizou os últimos dois séculos, e perante a qual o comunismo se representou como o crítico teórico e a alternativa prática.
Para além de actor político de ambição universal, o comunismo influenciou as práticas sociais e as esferas da cultura em praticamente todos os domínios.
Nesse movimento, a combinação entre as suas componentes teleológicas e societais diversificou-se, daí que haja lugar a falar em comunismos no plural. Tal diversificação motiva a interrogar os comunismos nas suas raízes teóricas e históricas, na multiplicidade da suas conexões e conotações: como história, como poética, como política e como teoria.
Embora a investigação e o debate científicos sobre o comunismo ocupem hoje em toda a Europa e nos EUA um lugar relevante nos currículos universitários o que aliás se acentuou nos últimos anos, em consequência do extraordinário alargamento dos arquivos disponíveis , em Portugal encontramo-nos, salvo excepções individuais, na infância da arte. O presente seminário visa impulsionar a superação deste estado de coisas, fazendo das correntes intelectuais, dos movimentos sociais, das organizações políticas e das teorias que historicamente se relacionaram com o comunismo (socialismos utópicos, marxismos, anarquismos) um objecto de indagação, pesquisa e debate científico, capaz de repercussões tanto no aprofundamento da investigação como no ensino universitário e na divulgação.
Tem-se em vista, em particular, contribuir deste modo para a superação da separação entre a história contemporânea de Portugal e a história geral, nomeadamente europeia.
O seminário acolhe contribuições que não se reivindicam de qualquer conceptualização marxista mas se debruçam sobre os comunismos e, também, contribuições no âmbito da história, da antropologia, da sociologia, da filosofia, dos estudos literários e artísticos -, que convocam as tradições marxistas em domínios que excedem o âmbito da história do comunismo.
O seminário iniciar-se-á em Abril e terminará no final de 2007.
PROGRAMA [todas as sessões decorrem no ISCTE às 17h30]
26 de Abril
Auditório B103.
Literatura e comunismo – Walter Benjamin.
com António Guerreiro e Manuel Gusmão.
3 de Maio
Sala C402
A Alegria Comunista. Portugal, anos 30.
com Luís Crespo de Andrade.
10 de Maio
Sala C402
“Portugal não é um país pobre”: história de uma exclamação comunista.
com José Neves.
17 de Maio
Sala C402.
Americanismo e Comunismo.
com Ruben de Carvalho.
24 de Maio
Sala C402.
Comunismo e sacos de batatas.
com Fernando Oliveira Baptista e Paula Godinho.
31 de Maio
Sala C402.
Comunismo e Guerra Civil de Espanha.
com Daniel Kowalsky.
4 de Junho
Sala a indicar
Música Moderna ou Música Proletária? Os Debates no Meio Musical Soviético (1917- 1932).
com Manuel Deniz Silva.
14 de Junho
Auditório Afonso de Barros.
Democracia e Revolução: a América Latina e o Socialismo hoje.
com Diana Raby e Miguel Urbano Rodrigues.