O galardão “Barreiro Reconhecido” , destinado a homenagear personalidades da cidade foi atribuído na “área da Resistência Anti-Fascista” a Albertina Marques Teixeira . militante comunista desde 1956, presa em 1959, e que entrou na clandestinidade em 1964, tendo sido companheira do dirigente do PCP Blanqui Teixeira.
Uma sua biografia foi publicada em Arte Barreiro :
Biografia
Nasceu em Riachos, no distrito de Santarém, em Setembro de 34. Vem para o Barreiro com apenas um ano de idade e esta será, para sempre, a sua terra do coração. Albertina Marques Teixeira cresceu no seio de uma família, numerosa e operária, que na CUF encontrou um meio de subsistência. Contudo, a perspicácia que havia de nortear toda a sua vida, também a faz entender que, na Companhia União Fabril, a repressão e as desigualdades tinham que ser combatidas. É na zona têxtil que conhece uma amiga que a leva, com 22 anos, para o Partido Comunista Português. “Foi uma opção de vida” diz com alegria na voz, “as dificuldades eram muitas mas nós tínhamos uma força tão grande que nunca pensámos em desistir. Pelo contrário!”.
Corria o ano de mil nove e cinquenta e sete quando foi detida e levada para Caxias durante 2 dias. “Certamente que foi denúncia” afirma hoje ao lembrar o susto que a mãe ‘coitadinha’ apanhou, “mas nada me fazia abandonar a luta”. Ainda na CUF alargou os seus contactos e começou a distribuir o Avante, num formato muito pequenino, tantas e tantas vezes disfarçado dentro de um cabazinho de flores. “Cheguei a transportar o Avante, o Militante e o Corticeiro e outros tantos pacotes com maiores quantidades mas nunca fui descoberta.”. Recolher assinaturas era outras das tarefas que desempenhava de forma expedita mas
de vez em quando
, lá era chamada à ‘António Maria Cardoso’ para interrogatório.
“Era só entrada por saída”, confessa, “nunca pegaram em nada”.
A sua casa foi, inúmeras vezes, palco de reuniões dos camaradas que viviam na clandestinidade. Albertina Marques Teixeira possuía uma grande perspicácia e astúcia na defesa das casas, e nunca houve problemas com a entrada e saída dos seus camaradas. “Era uma tarefa tão perigosa quanto apaixonante”. Quando pressentia problemas, levava os materiais do partido para a quinta da mãe que, cuidadosamente, os enterrava na capoeira das galinhas até voltar a ser segura a sua circulação.
Em 1964, deixa para trás o Barreiro, terra de gente operária, firme e lutadora e entra na clandestinidade. Aqui, a Tina (como carinhosamente ainda hoje é conhecida por todos), assume muitas vidas e igual número de pseudónimos. Ao longo dos anos foi Margarida, Ana, Rosa e Paula. “Sentíamos uma responsabilidade tão grande e o nosso amor à causa era tanto que rapidamente assimilávamos os nossos papéis na sociedade.” Mudou de vida, mudou de casa e, por algumas vezes, teve que deixar para trás a família, mas manteve-se firme a um ideal que iria ver concretizado em Abril de 74. “Lutámos muito. Queríamos derrubar o fascismo e devolver a Liberdade ao nosso país.”
Curiosamente, não viveu o 25 de Abril nas ruas como tantas outras pessoas. Na altura estava no Porto e não era seguro abandonar a casa do Partido. “Assisti a tudo da janela, as lágrimas caíam-me, sabia que a minha filha estava no Porto mas não podia vê-la”. Regressa ao Barreiro, só em Maio, com uma irmã que também vivia na clandestinidade, e vai ao encontro do seu companheiro de então, Fernando Blanqui Teixeira que, entretanto, havia ajudado a fundar o primeiro centro de trabalho do pais, do Partido Comunista Português, na Rua Eusébio Leão. Aí, assume tarefas de responsabilidade nos Fundos do Partido. Posteriormente, já na Rua Vasco da Gama, integra a Comissão Concelhia do PCP uma vez mais com responsabilidades na área dos Fundos e com tarefas na Comissão de Freguesia de dirigir os Bairros 5 e 6. Depois de construído o Centro Concelhio do PCP integrou a Comissão de Fundos com responsabilidades na área da Tesouraria.
Aos 71 anos, Albertina Marques Teixeira integra a Comissão de Tesouraria com muitos outros camaradas que são a sua família e desempenha, com a mesma satisfação de sempre, as tarefas de militante do seu partido.
“Até que me sinta útil é por aqui que vou ficar”, confessa, com uma modéstia, simplicidade e honestidade comoventes quando, vindos de alguém, que de tudo abdicou, em prol da Liberdade de um Povo.
“Sinto que, à minha maneira, contribui para construir um mundo melhor. Estou contente com a vida que escolhi e com as opções que fiz!”.
Hoje, o Barreiro agradece-lhe!
Por um percurso de dedicação e combate, Albertina Marques Teixeira recebe da Câmara Municipal do Barreiro o Galardão Barreiro Reconhecido na Área da Resistência Antifascista