Decorreram nos meses de Março a Maio as comemorações do Centenário de Arlindo Vicente (1906-2006). Organização: Comissão Promotora das Comemorações do Centenário do Nascimento de Arlindo Vicente.
Programa:
Março
Dia 5
15:00 – Descerramento da Placa Identificativa da Rua Arlindo Vicente, no Largo do Troviscal, com a presença da Banda da UFT.
16:00 – Sessão de Abertura das Comemorações na Escola de Artes da Bairrada, onde se fará a apresentação do programa das Comemorações, com a intervenção do Prof. Doutor Amadeu Carvalho Homem e um breve apontamento musical com Jorge Ly (piano) e Joaquina Ly (canto).
Abril
De 3 a 31 de Maio – Exposição "Arlindo Vicente 1906-2006" da responsabilidade do Museu S. Pedro da Palhaça, na Sala de Exposições da Biblioteca Municipal de Oliveira do Bairro.
Dia 25
Sessão Evocativa e Exposição "Arlindo Vicente – O Cidadão e o Político" no Salão Nobre da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro
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No Guia da Exposição, publicam-se as Conclusões da Carta ao Juiz Corregedor ( Autos de Segurança, processo nº 16.068/62, do 1º Juízo Criminal de Lisboa, fls. 182 e 183):
1.°) – Nasci filho legítimo de uma família da média burguesia e fui educado, com meus irmãos na honra, na generosidade, no respeito pelos direitos e dignidade do próximo e na ajuda e socorro dos mais humildes.
2.°) – Meus Pais eram católicos e liberais – no perfeito sentido da palavra – e assim nos educaram.
3.°) – Meus Pais eram democráticos e nunca compraram para um filho um objecto que o não comprassem, também para os outros.
4.°) – Fui educado no respeito da verdade e da minha própria pessoa e dignidade.
5.°) – Procurei sempre ser justo e generoso.
6.°) – Casei-me por amor na igreja de Sangalhos e assim nas tradições de meus Pais e de minha Mulher, eduquei os meus três filhos também.
7.°) – Meus filhos têm cursos superiores, assim como minha Mulher.
8.°) – Dei a meus filhos o meu exemplo cívico e educação religiosa e não me poupei a sacrifícios, apesar das minhas dificuldades pois eles cursaram colégios qualificados e até minha Filha foi aluna do colégio de freiras da Av. Manuel da Maia.
9.°) – Tenho três netos, orientados como eu e os meus filhos o foram exactamente, para que possam ser livres e conscientes.
10.°) – Obtive pelo meu trabalho alguns bens que juntei aos que herdei de meus Pais e de meus Sogros, para suprir a eventual miséria da falta de saúde. Porém
11.°) – Porque fui candidato à Presidência da República, sou vítima de um insidioso, falso e malévolo processo, onde somente ressalta o desejo da minha aniquilação.
12.°) – Tal processo não é o meu retrato, mas o retrato da Pide.
13.°) – Esta pretende aniquilar-me, só porque participei numas eleições e assim quer aniquilar qualquer oposição.
14.°) – Com o seu processo contra o signatário mostram o seu inteiro desrespeito pela Lei e pela Justiça.
15.°) – Tais factos e a circunstância de termos chegado no nosso País ao extremo limite de ver destruídos todos os direitos cívicos fundamentais e até na profissão do signatário serem, como a Polícia pretende, coarctados os direitos de livre exercício, impuseram a actuação do homem e do advogado nessas eleições.
16.°) – As alegações que pretendem a minha prisão mostram claramente o arbítrio de que são passivos todos aqueles que não aceitam o partido único, como solução nacional imposta.
Por tudo, eu,
17.°) – Como um desses homens, mas criado e educado na fé da Lei e da Justiça, da pureza e da independência delas, até ao fim dos séculos,
Espero a minha liberdade
Cadeia de Caxias, Reduto Morte, um de Fevereiro de 1962 (dois).
O presidiário as. Arlindo Augusto Pires Vicente.
Parabéns por este novo projecto.
Continuem, o mundo precisa…
Importa referir que as ditas comemorações se prolongam por todo o ano de 2006, incluindo exposições e publicações sobre o político e artista Arlindo Vicente. Será também publicada uma biografia de Arlindo Vicente (já no prelo) pela Imprensa da Universidade de Coimbra e CEIS/20, da autoria do autor destas linhas.