A discussão que se trava aqui sobre Catarina Eufémia revela as grandes dificuldades em tratar com distância os eventos da nossa história do século passado, em particular nos anos da ditadura. Nostálgicos do regime e / ou da história oficial do PCP , canónica para a oposição mesmo quando não era comunista, tornam toda a discussão uma polémica. Esta parece-me útil e reveladora, mas nela , em príncipio, não participarei directamente.
Reproduzo apenas algumas das primeiras versões publicadas dos eventos na imprensa clandestina, que revelam a rapidez da difusão da notícia da morte, mas também as confusões com a identidade da “camponesa” (o termo era usado na época para designar aquilo que era, na verdade, uma trabalhadora rural). Tendo em conta o modo como funcionava a estrutura clandestina do PCP, isto parece indicar que o partido podia seguir de perto os conflitos rurais, quase em tempo real, mas aponta para que Catarina Eufémia não fosse militante ou simpatizante organizada do partido. Dois elementos suplementares sobre a clandestinidade: a cadeia de comunicação dependia dos encontros regulares dos funcionários controleiros, que devia ser pelo menos mensal; e as datas reais dos jornais (não dos panfletos) deve ser acrescentada pelo menos de um mês.
O assassinato deu-se a 19 de Maio de 1954 e a primeira notícia conhecida vem num panfleto da Organização Regional do Alentejo do PCP, datado de dois dias depois:
Como se vê Catarina vem identificada como “Maria da Graça”, nome pelo qual é citada no Avante! Nº 187, de Abril-Maio 1954. No Camponês nº 44,de Maio-Junho de 1954, o orgão do partido para os campos do Sul, a notícia não refere sequer o nome:
No Camponês nº 45, de Agosto-Setembro de 1954, corrigia-se o nome de Maria Graça Sapinho pelo de Catarina Eufémia
Tendo em conta a relevância do acontecimento, tal como o percebemos hoje, o seu tratamento nos números seguintes do Camponês é residual e só em 1955 começa a ganhar dimensão acompanhando iniciativas de agitação local, como a designação do largo principal de Baleizão como Catarina Eufémia, e outras no primeiro aniversário da morte.
Ver também (se tal fosse possível sem pagar haveria ligação…) o artigo de Paula Godinho, “Ainda o mito de Catarina Eufémia”, no Público de 4 de Abril de 2005.
“Esta parece-me útil e reveladora, mas nela , em príncipio, não participarei directamente.”
“O assassinato deu-se a 19 de Maio de 1954 (…)”
Salvo melhor opinião as palavras que usamos são, só por si uma tomada de posição. Quanto ao artigo da Dra. Paula Godinho, apenas um comentário:Quem assassinou Alfredo Lima (morto numa greve rural a 4 de Abril de 1950 em Alpiarça).
Aquilo que penso é que há mortes que servem melhor determinados objectivos de propaganda que outras, se não porquê falarmos na Catarina e não no Alfredo?
Tenho sérias dúvidas que Carrajola tenha disparado com intenção de matar (análise subjectiva)se lermos o extracto acima vemos que teriam sido disparadas duas rajadas uma contra Catarina a segunda contra outra camponesa mas “não a atingiu”. Má pontaria do frio assassino? Qual seria a arma que equipava a GNR alentejana em 1954 e que fazia, assim, tiro de rajada?.
Citando a imprensa “junto com Marcos, o presumível homicida de dois polícias na Amadora, as autoridades apanharam uma dezena de armas” in “24 horas, 2005.04.02”.
Há uma certa diferença entre assassino/assassinato e presumível homicida. Enquanto tivermos investigadoras com tantas certezas a investigação histórica não avançará muito.