BIBLIOFILIA – RETRATO DE UMA AVENTURA INTELECTUAL A DOIS
Leonor Curado Neves (Edição), António José Saraiva e Óscar Lopes: Correspondência , Lisboa, Gradiva, 2004
Este é um grande livro, uma obra ímpar no meio das centenas de inutilidades que se publicam todos os meses. Dois amigos para a vida toda, que começam o seu trabalho intelectual na patrulha ortodoxa da dissidência na Vértice dos anos cinquenta, contra Mário Dionísio e Cochofel (veja-se o meu artigo sobre Lyon de Castro), escrevendo a História da Literatura Portuguesa a duas mãos e depois trocando cartas num diálogo intelectual sem par no século XX. Saraiva foi-se afastando do marxismo e saiu do PCP, Lopes ficou fiel ao PCP, mas ambos discutem o trajecto político e ideológico do seu tempo, à medida que acontece o Maio de 68, e a crise da URSS, ao mesmo tempo que toda a história da cultura portuguesa, Camões, Fernão Lopes, Bernardim, Oliveira Martins, Pessoa, Agustina, tudo. Acontecimentos como esta correspondência, são únicas na nossa vida intelectual.
Caro José Pacheco Pereira,
É sem dúvida um grande livro,o da Correspondência entre AJS e OL, porque foi escrito por dois empenhados intelectuais em discutir a cultura e a vida que lhes foi dado viver, de forma exaltante, como neste livro nos apercebemos.
Sempre tive mais simpatia pelo AJS que pelo OL,embora reconheça neste grande argúcia interpretativa em temas de literatura. O AJS foi um extraordinário historiador da cultura literária e, no fim da vida, estava um filósofo consumado, pessimista, é certo, mas terrivelmente lúcido.
Com o prefácio que AJS escreveu, em 1983, ao seu Dicionário Crítico, inicialmente publicado em 1960, aprendi mais dos malefícios do Comunismo que em muitas obras a esse fim destinadas. Com a colectânea de artigos «Os Filhos de Saturno» sucedeu-me o mesmo.
Infelizmente, poucos portugueses leram estas obras. Pode ser que, por seu intermédio, pela força mediática do seu Abrupto, mais gente ganhe interesse em conhecer a muito estimulante obra de António José Saraiva.
Bom Ano de 2005, José Pacheco Pereira, e pense em alternativas para o PSD, que bem vai precisar delas até 2006. Modestamente, no Alma Lusíada, tenho procurado contribuir para isso.
AV_30-12-2004