(Barcelos, 1921 – 31/12/2003)

Iniciou a sua aprendizagem escolar no Seminário da Régua, de onde saiu para o Liceu em Braga, onde esteve entre 1934 e 1941. Aí já se destacou como promotor de actividades culturais. A partir de 1937, escreve na imprensa local, sendo colaborador regular, desde a década de cinquenta, da Seara Nova e da Vértice. Como muitos da sua geração é a Guerra Civil de Espanha que o desperta para a consciência política.

Terminado o liceu emprega-se numa livraria e torna-se activista sindical, o que parece ter sido uma experiência “frustrante”. Em 1942, cria a Biblioteca Móvel, favorecendo o empréstimo domiciliário de livros, iniciativa perseguida pelo regime e finalmente extinta. Em 1943-4, liga-se ao MUNAF, e em 1945 ao MUD, através dos estudantes comunistas da sua região que nele participavam, em particular, Zenha e Armando Bacelar. Terá sido então recrutado para o PCP.

Em 1947, com base na sua experiência livreira, funda a Livraria Victor em Braga, que constituirá um suporte para a sua sobrevivência económica e um centro de actividade oposicionista local. Foi-lhe interdita a possibilidade de criar uma editora. Preso pela primeira vez em 3 de Junho de 1947, teve posteriormente repetidas prisões, em 1949, em 20 de Fevereiro de 1950, 12 de Dezembro de 1955, 2 de Junho de 1958, 29 de Junho de 1960, e 29 de Abril de 1962. Com excepção das prisões de 1950 e 1962, em que nesta última, foi acusado de pertencer às Juntas Patrióticas e absolvido, nunca foi julgado. Em 1958 apoia Arlindo Vicente e depois Humberto Delgado.

Inicia os estudos universitários no Curso de Ciências Histórico-filosóficas da Faculdade do Letras de Coimbra (1952). Quando terminou a licenciatura, atribulada pelas perseguições políticas de que era alvo, foi nomeado professor da Escola Comercial de Braga e imediatamente proibido de tomar posse. A oposição bracarense, sob inspiração do PCP, realizou-lhe um grande jantar de homenagem, em 15 de Novembro de 1959, em que participaram centenas de pessoas. Falaram Armando Bacelar, Lino Lima , Vasco da Gama Fernandes, Maria Isabel Aboim Inglês e Júlio Calisto, e foi recebida uma mensagem “dos operários de Braga”, uma forma conhecida de saudação em nome do PCP. Como era habitual nas precárias condições de legalidade, o jantar foi o pretexto para uma reunião da oposição, e se avançar na organização de um movimento contra a repressão, por proposta de Maria Isabel Aboim Inglês. Foram igualmente aprovadas moções sobre o processo contra Aquilino Ribeiro, e de apoio a Humberto Delgado. As eleições de deputados de 1961 já estavam na agenda oposicionista, tendo Victor Sá sido candidato.

A PIDE tentou, em 28 de Janeiro de 1960, encerrar a sua única fonte de sustento, a livraria de Braga, o que suscitou um movimento de protesto generalizado , mesmo nos meios mais conservadores da cidade. Três dias depois, a livraria abre de novo Nestas condições, sem possibilidade de trabalhar em Portugal, aceita uma bolsa da Gulbenkian que lhe permitiu- ir para Paris onde prepara o seu doutoramento na Sorbonne com uma tese sobre “A Crise do Liberalismo e as Primeiras Manifestações das Ideias Socialistas em Portugal (1820-1852)” pioneira do estudo da génese do socialismo em Portugal , posteriormente editada em 1969.

Impedido de regressar a Portugal, encontra-se com a família nas praias da Galiza, até que por pressão das autoridades portuguesas foi impedido de para lá se deslocar. Em 1965, decide defrontar o cacique salazarista de Braga, António Santos da Cunha, uma influente personalidade do regime, e que o acusara de “ligações com o estrangeiro”, pedindo a Armando Bacelar que o leve a tribunal por difamação. Decide então forçar o seu regresso a Portugal, mas logo que aterra em Lisboa é preso no aeroporto. Pressões de Armando Bacelar sobre Marcelo Caetano garantem-lhe a libertação. Dedica-se então à sua livraria, visto que o doutoramento não foi reconhecido. Reiniciou a sua actividade política tentando concorrer pela CDE de Braga em 1969, o que foi impedido, embora em 1973 tenha feito parte das listas. Participa no Congresso Republicano de Aveiro.

Depois do 25 de Abril, embora a sua condição de comunista fosse conhecida, apresentava-se como pertencendo ao MDP-CDE e, nessa condição, assumirá vários cargos como o de director do nacionalizado Correio do Minho. No entanto, em Braga, onde o conflito político era aberto e violento, Victor Sá foi ameaçado pelas acções terroristas anticomunistas. Veio mais tarde a ser deputado pelo APU (1979-80) e manteve sempre o activismo político local.

Prosseguiu a sua carreira académica, agora com o doutoramento reconhecido, na Faculdade de Letras do Porto, continuando a publicar livros e artigos na área da história social e operária. Os seus papéis e arquivo foram doados à Biblioteca Pública de Braga e à Universidade do Minho em 1992. Recebeu a Ordem da Liberdade.

Fontes: nota biográfica de Henrique Barreto Nunes;

José Ricardo, Romanceiro do Povo Miúdo . Memórias e Confissões, Lisboa , Edições Avante! , 1991

Joaquim Victor Baptista Gomes de Sá,Cópia da Reclamação / Senhor Ministro da Educação Nacional. Excelência:,Braga,,20 Outubro 1959 (TBH, 3ºJ, Pr. 16827/62, Cx. 703, vol. 4)

Informações Políticas / – A 15/11 realizou-se um almoço de homenagem ao Dr. Victor de Sá pelo seu recente doutoramento e de protesto por ter sido desnomeado de professor da escola técnica de Braga…(Doc dactil apreendido a Fernanda de Paiva Tomás), Novembro 1959 (TBH, 3º J, Pr. 16577/61, Cx 646-649, Vol. 5)

Informações Políticas / Almoço de homenagem ao Dr. Victor de Sá …Reuniões de democratas...(Doc dactil apreendido a Fernanda de Paiva Tomás), 20 Novembro 1959 (TBH, 3º J, Pr. 16577/61, Cx 646-649, Vol. 5)

Carta de Victor Sá a Armando Bacelar, Paris, 6 de Novembro de 1965, (Proc. 99 CI)

Algumas obras e artigos de Victor Sá:

Antero de Quental, 1942 (reeditado em 1978)

As Bibliotecas, o Públco e a Cultura, 1956

O Que É a “UNESCO”,Braga, Edição do Autor,1955

História e actualidade,Braga,,1961,

Cultura e Democracia,Braga,Edição do Autor,1961,

Patrício – Da Monarquia à República,s.l.,,s.d.,

Perspectivas do Século XIX, Lisboa, Portugália Editora,1964,

A Crise do Liberalismo e as Primeiras Manifestações das Ideias Socialistas em Portugal (1820-1852), Lisboa, Seara Nova, 1969,

Regressar para quê ?, 1970

“Do Associativismo ao Sindicalismo em Portugal”,O Instituto, V.CXXXVIII, 1977

Formação do Movimento Operário Português, Coimbra,,1978

Manuel Monteiro ou a República Inviável, Braga, Universidade do Minho, 1980,

“Congressos Operários Galaico-Portugueses no Dealbar do Século”,Revista Técnica do Trabalho, 7-8, Jan.-Junho 1981

Fascismo no Quotidiano, Lisboa, Vega, 1989,

“A Comuna de Paris / A formação do movimento operário e Portugal”, O Militante, 194,Setembro-Outubro de 1991

Roteiro da Imprensa Operária e Sindical 1836-1986, Lisboa, Caminho, 1991,

“Um anarquista famalicense em 1896: Manuel da Silva Mendes (S. Miguel da Antas 1867)”, Boletim Cultural da Câmara de Famalicão, 13, 1994-95

O Liberalismo português (1820 – 1852). Recolha Bibliográfica, Braga, Forum, 1994

Testemunho de um tempo de mudança, Braga, Conselho Cultural da Universidade do Minho, 1999

Legenda para uma memória, Braga, Biblioteca Pública de Braga, 2001,

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