
“P. – A sua mãe era comunista, mas só depois do 25 de Abril entre no PCP.
R. – Em 1974. Ela diz assim, tal e qual vou contar-lhe como é que foi: “Oh filha, eu para ser coerente devia ir para o partido, devia-me filiar no partido.” “Filia-te”, foi o que eu lhe disse. “Ah e então a tua irmã?” Eu disse: “O problema é teu.””Mas o que é que tu me aconselhas?”, ela gostava muito de me colocar estas casquinhas de banana a mim e eu disse: “Olha mãe desculpa, eu aí não de dou palpite, tu fazes o que entenderes e aquilo que quiseres dizes-me se quiseres que te faça alguma coisa, mas decides tu sozinha.” “Pois, mas eu tenho medo que a Mimi se zangue, que a Mimi fique aborrecida.” Passados uns dias disse-me: “Olha, já decidi, eu quero ir para o Partido Comunista”. “E eu disse: “Está bem, pronto.” “Mas podias ser tu a inscrever-me.” Falei com o Carlos Aboim Inglez, ali na António Serpa, e com a Maria Alda [Nogueira] e disse: “Oh Maria Alda gostava de ir aí falar contigo por causa disto, assim assim, um problema da minha mãe, podes imaginar o que é.” “Sim, sim, imagino, vem depressa.”, respondeu. E inscrevi-a, foi assim. “
Nos escritos habituais sobre Maria Lamas, incluindo esta entrevista e a biografia de Maria Antónia Fiadeiro, é sempre omitido o facto desta, mais do que uma oposicionista, ter sempre seguido estritamente a linha do PCP , mesmo quando essa linha era a da divisão da oposição e do sectarismo mais rigído. Como responsável pelo Movimento da Paz, um instrumento da política soviética na guerra fria, criado por Staline e Jdanov, Maria Lamas manteve-se sempre de uma ortodoxia total, em particular durante os anos cinquenta. As relações de Maria Lamas com o PCP antes do 25 de Abril permanecem por estudar, o que significa que muito do tratamento da sua figura é de carácter hagiográfico.
Na foto, Maria Lamas com Chu En Lai.