O ciclo de sessões “Popologia – mitologias do mundo contemporâneo”, realizado em Março de 1968, foi o primeiro a abrir as actividades culturais associativas às formas, meios e realizações da contra cultura dos anos 60 e à nova estética da cultura pop. O mundo cultural que trazia aos estudantes associativos e a um público juvenil politizado, era predominantemente anglo-saxónico e associado a novas expressões da cultura juvenil como a música pop, a banda desenhada, e o cinema de vangarda. Este ciclo ocorreu antes do Maio de 1968, e revela o papel da recusa das referências culturais neo-realistas, dominantes na oposição onde o PCP era hegemónico no plano cultural, na formação da geração esquerdista dos anos setenta. A radicalização estética precede a radicalização política, mas ambas fazem parte de um mesmo movimento cultural.
Realizada por um grupo de colaboradores da Secção Cultural da AAFDL tratava-se de uma realização “paralela”, “autónoma” (termos em que é descrita na AAFDL, Relatório e Contas da Gerência de 1967-1968, Novembro de 1968) e teve que ser feita fora das instalações associativas na SNBA. Entre os seus animadores contava-se Manuel Castilho, e Alexandre de Oliveira, já falecido, e um grupo de colaboradores associativos que, desde 1967, se opunham à orientação dominante na Secção Cultural.
A realização “oficial” da Secção Cultural era um ciclo de debates intitulado “Coordenadas da Arte nos nossos dias”, coincidentes para o mesmo mês de Março, com os temas e pessoas habituais do neo-realismo dominante: Mário Sacramento, Lima de Freitas e Machado da Luz discutiam “Arte interferente e arte intemporal”, P. Viana de Almeida, Alberto Ferreira e J. Augusto França, “arte divorciada do público e arte para o povo”, Fiama Hasse, Augusto Costa Dias e Ernesto de Sousa, “arte popular”, Urbano Tavares Rodrigues e Óscar Lopes “o conflito entre o realismo crítico e a arte decadente.”, etc. (Coordenadas da Arte nos Nossos Dias, Ciclo de Conferências promovido pela Secção Cultural da AAFDL, 1968). Era difícil ser mais ortodoxamente neo-realista, ou seja, estar mais dependente da visão estética do PCP.
O ciclo “Popologia” introduzia temas até então ignorados na cultura associativa: movimentos juvenis, “beatnicks”, “provos” e “hippies”, música pop (audição de discos dos Beatles, Bob Dylan, Simon and Garfunkel, Kinks, Manfred Mann, Cat Stevens, etc.) banda desenhada, Andy Warhool, cinema “pop” (que incluia os filmes dos Beatles, A Hards Day Night, Modesty Blase de Losey, Superargo contra Diabolick de Nick Norton, e um filme de Tarzan com Weissmuller).
As pessoas que falavam também não eram as habituais: havia homens da rádio (João Manuel Alexandre do “Em Órbita”), do Jazz (José Duarte, Manuel Jorge Veloso), da música de vanguarda (Jorge Peixinho), cineastas e críticos de cinema como Jorge Silva Melo, António Pedro Vasconcelos, Luis Galvão Teles.
Alguns neo-realistas convidados aceitaram para atacar a realização, como Pedro Nunes de Almeida que no sumário da sua intervenção dizia que: “A intervenção pop não convém à arquitectura – A arquitectura não é passível de um consumo obsolescente que caracteriza o pop”.
O ciclo teve um grande sucesso de participação.
(Popologia. Mitologias do Mundo Contemporâneo, Ciclo de Sessões organizado pela AAFDL na Sociedade Nacional de Belas-Artes, 1968).
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Bibliografia:
AAFDL , Relatório e Contas .…….
Popologia……
Coordenadas...
Quinzena Pop, Cinema Europa, 1968.
Popologia nº 9